O glúten, proteína encontrada em cerais como o trigo, o centeio, a aveia, a cevada ou seus derivados, tem gerado polêmica entre consumidores, acadêmicos e especialistas nas ciências da saúde.
Conhecido pelas reações que provoca em quem sofre com a doença celíaca – entre elas a inflamação crônica da mucosa do intestino –, passou também a ser apontado como fator de risco para o desenvolvimento de outras, tais como a obesidade ou as cardiovasculares, em especial a Doença Arterial Coronariana, DAC.
Estima-se que cerca de 1% da população mundial seja portadora da doença celíaca. No Brasil, a Federação Nacional das Associações de Celíacos, Fenacelbra, divulgou o crescimento em 2017 dos casos já diagnosticados e, daqueles em que ocorrem os sintomas, mas que ainda não foram oficialmente confirmados. O número apresentado soma cerca de 2 milhões de portadores, é quase tão alto quanto o registrado no continente europeu (1).
Contudo, embora os dados pareçam muito expressivos, eles não justificam a má fama atribuída ao glúten nos últimos anos. Como resultado dela, as dietas que limitam a sua ingestão ganharam popularidade entre os adeptos de um estilo de vida mais saudável, mesmo os que não apresentam nenhum tipo de reação aos alimentos produzidos a partir desses cereais.
Para ser ter uma ideia, os alimentos que possuem impresso no rótulo o alerta ‘Não contém Glúten’, se destacam em consumo entre os funcionais, que registraram um crescimento de quase 100% nas vendas dos últimos cinco anos. Só no Brasil, são mais de 30 os produtos sem adição de glúten disponíveis nas prateleiras dos supermercados ou lojas de produtos naturais.
Outros estudos, entretanto, apresentam resultados que desmistificam essa reputação e comprovam que o consumo desses cereais por quem não apresenta nenhum sintoma da doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, pode ser benéfico não apenas para garantir um maior equilíbrio de nutrientes para o organismo, mas também para prevenção ou redução de diferentes doenças.
Em alguns países nórdicos, por exemplo, entre eles Noruega, Suécia e Dinamarca, campanhas oficiais dos órgãos governamentais de saúde orientam a população para o consumo de cereais, com diretrizes recomendando a ingestão de pelo menos 75g diárias e baseadas em evidências científicas que associam esse consumo à redução do risco de desenvolver diferentes doenças crônicas.
Incluídos em uma dieta equilibrada, afirmam as campanhas, eles oferecem benefícios como auxiliar no controle da glicemia e triglicérides, aumentar a absorção de vitaminas e minerais, melhorar a flora intestinal e fortalecer o sistema imunológico. Os principais cereais consumidos nesses países são o trigo, o centeio e a aveia (2).
Ricos em vitaminas, fibras e minerais, os benefícios desses cereais são também confirmados em um estudo realizado por diferentes equipes de pesquisadores de universidades estadunidenses. Publicado recentemente na plataforma ‘The BMJ’, voltada para divulgação de artigos científicos, comparou os dados de mais de 100 mil pessoas – 65 mil mulheres e cerca de 46 mil homens, durante o período de 26 anos, de
1986 a 2010.
Concluiu, que o consumo diário desses cereais, além de não estar associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares como a Doença Arterial Coronariana, DAC, de acordo com o sugerido anteriormente, deixar de incorporá-los à dieta alimentar pode, ao contrário, contribuir para o desenvolvimento dessa condição.
A doença arterial coronariana é caracterizada pela obstrução dos vasos sanguíneos que irrigam o coração, em decorrência do acúmulo de placas de gordura no interior desses vasos, o que acaba dificultando o trabalho do sangue para chegar ao músculo cardíaco, resultando em complicações que vão desde arritmia ou infarto, às mais graves como morte súbita (2).
Ao que tudo indica, o pão nosso de cada dia, um dos alimentos mais antigos da humanidade e tão presente nas refeições de diferentes povos, ainda vai ter muita história para contar.
As informações contidas nesta página têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.